Lá bem no fundo está a morte, mas não tenha medo. Segure o relógio com uma mão, com dois dedos na roda da corda, suavemente faça-a rodar. Um outro tempo começa, perdem as árvores as folhas, os barcos voam, como um leque enche-se o tempo de si mesmo, dele brotam o ar, a brisa da terra, a sombra de uma mulher, o perfume do pão.
Quer mais alguma coisa? Aperte-o ao pulso, deixe-o correr em liberdade, imite-o sôfrego. O medo enferruja as rodas, tudo o que se poderia alcançar e foi esquecido vai corroer as velas do relógio, gangrenando o frio sangue dos seus pequenos rubis. E lá bem no fundo está a morte, se não corrermos e chegarmos antes para compreender que já não interessa nada.
Julio [Florencio] Cortázar foi um escritor argentino. (Embaixada da Argentina em Ixelles, 26 de agosto de 1914 – Paris, 12 de fevereiro de 1984)
- Protegido: Barba Azul – aprofundando a experiência - 15/05/2020
- Uma esperança – Clarice Lispector - 31/03/2020
- As três vasilhas – conto - 22/03/2020
Gostei do realismo asimcopado do conto de Débora e do trabalho suave e cadencioso das metáforas no conto de Iana. Boas leituras.
Parabéns!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Mónica Palacios
Sobre a escolha de Cortázar , desculpem… acredito não tenha sido o melhor ” anzol. “
Grata, Monica! Um privilégio ter a sua leitura e os seus comentários. Diga-nos: o que sugere do Cortázar?
Imagino que primeiro é preciso conhecer as suas figuras, tropos, personagens, espaços, etc. depois… entramos nos contos e continuamos.