A jovem rainha vagueou até chegar à floresta maior e mais selvagem que jamais vira. Na tentativa de procurar um caminho, ela procurava passar por cima, pelo meio e por volta do mato. Quase ao escurecer, o mesmo espírito de branco de antes apareceu e a conduziu a uma pobre estalagem de gente simpática da floresta.

 
Uma outra donzela vestida de branco levou a rainha para dentro e demonstrou saber seu nome. A criança foi posta num berço.

 
— Como você sabe que sou uma rainha? — perguntou a donzela.

 
— Nós da floresta acompanhamos esses casos, minha rainha. Agora descanse.

 
E assim a rainha ficou sete anos na estalagem e se sentia feliz com sua criança e com sua vida. Aos poucos suas mãos lhe voltaram, primeiro como pequeninas mãozinhas de bebê, rosadas como pérolas, depois como mãos de menina e afinal como mãos de mulher.

 
Enquanto isso, o rei voltou da guerra, e sua velha mãe se lamentou com ele.

 
— Por que você quis que eu matasse dois inocentes? — Perguntou ela, mostrando-lhe os olhos e a língua da corça.

 
Ao ouvir a terrível história, o rei cambaleou e caiu a chorar inconsolável. A mãe viu sua dor e contou que os olhos e a língua eram de uma corça e que ela havia mandado a rainha e o filho fugir pela floresta adentro.

 
O rei jurou não mais comer nem beber e viajar até onde o céu continuasse azul para encontrar os dois. Ele procurou por sete anos a fio. Suas mãos ficaram negras; sua barba, de um marrom semelhante ao do musgo; seus olhos, avermelhados e ressecados. Todo esse tempo, ele não comeu nem bebeu nada, mas uma força maior do que ele o ajudou a se manter vivo.

 
Afinal, ele chegou à estalagem mantida pelo povo da floresta. A mulher de branco convidou-o a entrar, e ele se deitou de tão cansado. A mulher colocou um véu sobre o rosto dele, e ele adormeceu. Quando ele chegou à respiração do sono mais profundo, o véu se enfunou e escorregou aos poucos do seu rosto. Ao despertar, ele encontrou uma linda mulher e uma bela criança que o contemplavam.

 
— Sou sua esposa, e este é seu filho. — O rei queria acreditar, mas via que a donzela tinha mãos. — Com todas as minhas aflições e com meus bons cuidados, minhas mãos voltaram a crescer — disse a donzela. E a mulher de branco trouxe as mãos de prata que estavam guardadas como um tesouro numa arca. O rei ergueu-se e abraçou a mulher e o filho, e naquele dia houve uma alegria imensa na floresta.

 
Todos os espíritos e os ocupantes da estalagem fizeram um belo banquete. Depois, o rei, e rainha e o filho voltaram para a velha mãe, realizaram um segundo casamento e tiveram muitos outros filhos, todos os quais contaram essa história para outros cem, que contaram essa história para outros cem, exatamente como vocês fazem parte dos outros cem quem eu a estou contando.

 
 

* Versão da história que se encontra no livro Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola Estés, Ed. Rocco.

 

Este conto será o fio condutor das rodas de conversa de set, out e nov, de São Paulo e da Granja Viana, ajudando-nos a explorar as etapas da individuação do feminino. Venha participar conosco!
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