Por Elienai de Paula

Assim que o dia amanheceu lá no mar eu vi passar um pássaro branco, tão branco que ofuscava meu olhar. Andei mais um pouco e pude ver meus passos naquela areia fofa. O barulho incessante do mar me fazia pensar em Suzana. “Por onde andará Suzana?” Por que naquele momento ela surgia na minha lembrança? “Onde andará Suzana?” perguntava minha mente inquieta. Ou será minha lembrança saudosa de Suzana que aguçava a minha mente? Olhei para trás, e o pássaro branco a voar acima de mim repetia: “Suzana, Suzana, Suzana…”

As ondas pareciam pedir ao sol: “Aqueça Suzana…”. O claro do dia ofuscava meus olhos e ao olhar para trás vi a imagem de Suzana. Sentei-me na areia para que as idéias se acalmassem e o coração calasse. Minhas mãos trêmulas queriam o pássaro alcançar na tentativa de fazê-lo calar. Meu olhar distante no horizonte queria enxergar, meus pés enterrados na areia faziam-me sentir o quente, o dente, o pente na bolsa, o presente que Suzana fora para mim.

De repente ouço ao longe um cantar. Era uma suave melodia que acalmava meus sentidos, como se me segurasse pelas mãos a levar a lugares que nunca antes visitara. Talvez neste desconhecido lugar Suzana estaria e esperar? Meu coração tornou a disparar. Agora eu levantava a andar devagar porque não queria alcançar o que minha mente escandalosamente gritava: Suzana. Entre tantas lindas paisagens a me rodear não haveria outra a ver além de Suzana?

Fora em uma tarde de verão que nos encontramos, nossos olhos não puderam resistir a tal encontro de pronto. Sentamos em silêncio. Não sabíamos onde iríamos, mas queríamos parar o tempo para jamais pensar que a partir dali iríamos nos separar. Sem querer acreditar sussurrávamos doces palavras. Que palavras ditas naquele momento poderiam expressar tamanho clamor de almas contentes, corpos ardentes, risos escandalosos… Mergulhei em lembranças como se me atirasse no mar à minha frente.

(…)

Um ardor nas costas me fez retomar o presente. Já havia andado tanto, com o passado a me envolver debaixo daquele sol escaldante, daquela primavera que recém havia começado, que minha pele, ainda acostumada com os casacos do inverno há pouco terminado, ainda sensível, parecia estar em bolhas. Resolvi mergulhar para de fato me refrescar e ao voltar e olhar a silhueta dos arranha-céus logo atrás das palmeiras que agora contornavam a praia, lembrei-me do Réveillon que passamos no edifício que agora eu contemplava, anos depois do incidente que faria com que nossas vidas paradoxalmente se entrelaçassem e se distanciassem na mesma medida. Era final do ano de 1942 e éramos amigas de escola…

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