Rosa, de repente, começou a acordar muito cedo, antes do nascer do sol. Não planejou, apenas aconteceu de ser assim. Antes dos sons e da claridade e de os movimentos do dia começarem, Rosa despertava e acompanhava ainda deitada o amanhecer lá fora.

 

Um dia, tendo acordado mais uma vez bem cedo, resolveu assistir ao nascer do sol. Saiu da casa, sentiu o frescor da madrugada, observou as primeiras luzes revelando a paisagem, tirou o sapato e colocou os pés na grama ainda úmida da noite.

 

Desde então, com frequência Rosa acorda muito cedo e sai da casa para ver o sol nascendo. Não planejou, simplesmente aconteceu assim.

 

Certo dia, tendo sido de novo dessa maneira, Rosa teve vontade de voltar a escrever, coisa que deixara de fazer há muitos anos, sem um motivo aparente.

 

Depois de observar os primeiros raios de sol se derramarem na paisagem, de sentir o frescor da madrugada e colocar os pés na grama, entrou novamente na casa, ferveu a água para o café, pegou papéis e caneta e tendo preparado tudo sentou-se na varanda para escrever. Não planejou, mas as coisas foram assim.

 

E escreveu quase infinitamente. Os textos vinham como a luz do sol: se lançavam sobre o papel, ao que parece simplesmente porque era hora de estarem ali.

 

E dessa forma passou a ser. Dia após dia, sem que houvesse planejado, Rosa passou a frequentemente acordar, escrever, ver o nascer do sol na varanda, colocar os pés na grama e seguir. E a vida seguiu diferente.

 

Rosa está mais desperta. Ela mora em algum lugar em mim. É uma mulher que tem uma forma especial de ser e algum tipo de sabedoria que tento ouvir e entender.

 

Hoje Rosa acordou cedo novamente. Avisou-me que iria ver o amanhecer, sentir o frescor da madrugada com os pés na grama úmida e escrever. Isso sempre é uma espécie de convite. E hoje eu a acompanhei.

 

Foi Rosa quem escreveu este texto. Enquanto isso eu fiquei assistindo ao nascer do sol e observando as rosas na floreira que estavam começando a abrir. Tomamos café na varanda.

 

Agora Rosa se recolheu. Entregou-me o texto e se recolheu. Gosto que ela esteja escrevendo novamente. Ela também gosta de pintar, e eu desejo que volte a fazer isso também algum dia, quem sabe… Mas não há como planejar.

 

De todo jeito, é bom ver Rosa se movimentando pela casa, saindo, entrando, existindo. Às vezes eu a acho um pouco melancólica. Mas se houve alguma dor, se há alguma tristeza, é bom que se expresse assim. Observo Rosa. Deixo ela ser e existir dentro de mim.

 
 
Imagem: Helena Schanzer

Iana Ferreira
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