“Bom, uma ideia ainda melhor do que as pequenas tarefas (ver na parte II destes posts) são os primeiros esboços ruins. Todos os bons escritores fazem isso. É assim que conseguem segundos esboços bons e terceiros esboços ótimos. As pessoas tendem a pensar que escritores de sucesso – aqueles que têm seus livros publicados e que talvez até estejam bem financeiramente – se sentam na frente da escrivaninha todas as manhãs se sentindo incríveis, satisfeitos consigo mesmos, felizes pelo talento que têm e pela grande história que vão contar. Conheço ótimos escritores – que são adorados, escrevem muito bem e ganharam muito dinheiro – e nenhum deles costuma se sentir incrivelmente entusiasmado e confiante. Nenhum deles escreve primeiros esboços ótimos”
É assim que Anne Lamott começa o capítulo em que apresenta a “segunda coisa útil sobre a arte de escrever”, desmistificando a escrita e mostrando que “escrever não é algo arrebatador”.
Então, ela estimula seus leitores a escreverem seu primeiro esboço ruim. É preciso fazer como uma criança, que coloca tudo para fora, sem censura. É preciso agir assim, sabendo que ninguém vai ler esse texto e que é possível acertá-lo mais tarde. Anne enfatiza que é importante simplesmente deixar a parte infantil canalizar para a página tudo que for surgindo:
“Se uma das personagens quer dizer ‘E daí, seu bunda suja?’, você deixa. Ninguém vai ver. Se a criança quiser entrar em um território realmente sentimental, choroso e emotivo, permita. Apenas ponha tudo no papel, porque em alguma parte daquelas seis páginas malucas que vão sair pode haver algo ótimo, que você não teria conseguido usando meios racionais e maduros. Pode haver algo na última frase do último parágrafo da página seis que é tão bonito ou impetuoso que faz com que você veja mais ou menos sobre o que deveria estar escrevendo ou que direção seguir – mas não havia como chegar até ali sem passar pelas primeiras cinco páginas e meia.”
Inspirador!? Que tal tentar!?
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Palavra por palavra, instruções sobre escrever e viver, Anne Lamott, Editora Sextante, 2011.
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