Stephen Koch, em ‘Oficina de escritores’, fala de quatro disciplinas primordiais para qualquer pessoa que queira escrever. São elas: imaginação, observação, leitura e escrita. Ele comenta sobre isso: ‘Como todo mundo faz essas coisas, você talvez suponha que pode tratá-las como os outros fazem. Isso seria um erro’.”

 

Começamos assim a publicação anterior dessa série, a primeira de quatro, com algumas dicas sobre a escrita que abrem o livro Oficina de escritores (para ler essa primeira parte, clique AQUI). Nela, compilamos e comentamos alguns trechos do autor sobre a disciplina da imaginação.

 

Vamos seguir? O segundo tópico pode se tornar um exercício prazeroso. Veja só:

 

 

OBSERVAÇÃO

 

 

Segundo Koch: “A maioria das pessoas quase sempre joga suas observações no mesmo cesto de reciclagem em que joga as coisas que imagina. Felizmente, para os escritores, um pouco daquilo que é jogado fora pode ser recuperado e reciclado. Quando você estiver trabalhando, a maioria das lembranças úteis serão tiradas do seu vasto arquivo morto das coisas que você em parte notou e em parte esqueceu. Como escritor você tem de observar o que normalmente não é observado. Os detalhes que dão vida e nitidez são, na maioria das vezes, vistos de relance.

 

 

Hemingway disse que se exercitava para fazer exatamente isso:

“… buscar situações despercebidas que despertam emoções”.

 

 

“Para organizar e reter alguns aspectos úteis daquilo que observa, você terá de concentrar a memória e desenvolver um método criativo de fazer anotações.”

 

(…)

 

“Você está à procura de algo que possa colocar em palavras. (…) se for escritor de ficção, vai buscar a narrativa. (…) Qualquer pessoa pode observar o mundo tão bem quanto você – muitas vezes até melhor – basta apenas que tenham praticado alguma disciplina.”

 

Então, Koch diz que cada profissional tem seu próprio olhar de perito: um médico, um advogado, um professor… Cada um desenvolve um tipo próprio de observação. Para o escritor é necessário observar como um escritor, prestando atenção àquilo que confere vivacidade, sentimento e sentido, buscando “as situações despercebidos que despertam emoções”, mas acima de tudo buscando a prosa.

 

Prossegue o autor: “Tão logo sua mente inconsciente comece de fato a se concentrar num determinado projeto, é provável que seu poder de observação se fixe nele e pareça subitamente transformar-se. As coisas que se encaixam em seu projeto parecem surgir de modo espontâneo onde quer que você olhe. O projeto se torna uma espécie de lente que dota a mente da habilidade de organizar o acaso; a concentração interior faz o que é relevante saltar à sua frente vindo de todos os lados. De repente, o mundo parece transbordante de tudo o que você precisa.

 

 

“Há uma magia que todo escritor conhece: parece que o mundo lhe dá exatamente

o que você precisa, no momento em que precisa.”

Edmund White

 

 

Dessa forma, parece que a próxima tarefa para quem está se dedicando a seguir com a escrita é simplesmente estar aberto ao mundo e observar, entrar em contato com o que ele quer dizer. Abrir as portas da percepção dessa maneira é, no mínimo, um trabalho de ampliação das percepções.

 

Que tal experimentar? E se desejar, depois compartilha com a gente: contato@entretexto.com

 

 

Obra de referência deste artigo: Oficina de escritores, um manual para a arte da ficção, Stephen Koch, Martins Fontes, 2009.

 

 

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