As quatro disciplinas para quem quer escrever

 

Demoramos, mas seguimos agora compartilhando o que Stephen Koch aponta em seu livro Oficina de escritores como as quatro disciplinas para quem quer escrever. As primeiras foram imaginação e observação. A terceira disciplina é leitura. Vamos seguir?

 

 

LEITURA

 

O autor começa afirmando com franqueza que “há algo suspeito – até mesmo desconcertante – numa pessoa que não lê e afirma querer escrever”. Nessa mesma linha, ele cita Stephen King:

 

“Quem não tem tempo para ler não tem tempo (nem ferramentas) para escrever.

É simples assim. A leitura é o centro criativo da vida do escritor.”

 

Mais adiante, Koch diz que é um absurdo lamentável não termos tempo para ler e demonstra que passamos muitas horas do nosso dia fazendo outras coisas, como assistir televisão ou ler jornal, e, sendo assim, o culpado de lermos tão pouco não é a nossa agenda. Então, ele afirma categoricamente que o verdadeiro culpado é o nosso tédio, o tédio em relação aos livros que pensamos que devemos ler. E aconselha: “Encontre um livro que você queira ler, que o empolgue verdadeiramente, que lhe queime nas mãos – então, você terá tempo de sobra.” É preciso sair em busca dessa literatura, aquela que realmente nos interessa, encontrá-la e, depois, ler, ler, ler e ler sempre um pouco mais.

 

A partir daí, o autor aponta algumas funções importantes da leitura.

 

Primeiro, ela nos ensina a usar corretamente as palavras. Falta de correção nisso implica falta de comunicação. Lendo, aprendemos a usar melhor as palavras.

 

Segundo, a leitura também ajuda a ouvir e nos familiarizarmos com as diferentes músicas da linguagem, até chegarmos à nossa própria.

 

Terceiro, Koch indica que devemos ler poesia regularmente, porque isso exercita funções que normalmente não usamos.

 

Quarto, é preciso ler também para procurar nossos verdadeiros interesses e expandir aquilo que conhecemos.

 

No entanto, quinto – e este talvez seja o ponto mais difícil de se entender – é preciso ler também para nos esquecermos. Sobre isso, ele diz: “A mente pré-consciente é um excelente editor. Ela tem um jeito próprio e misterioso de aumentar seus conhecimentos e eliminar o que não interessa”.

 

Então, ele se refere ao que Gabriel García Márquez conta ao descrever seu processo de preparação para o Outono do Patriarca:

 

“Li tudo que consegui encontrar sobre os ditadores da América Latina do século passado e começo deste século. Também conversei com muita gente que viveu sob regimes ditatoriais. Fiz isso por pelo menos dez anos. E quando formei uma ideia clara da personagem, esforcei-me para esquecer tudo o que tinha lido e ouvido, para poder inventar sem usar nenhuma situação que tivesse acontecido na vida real”.

 

Vale escolher um tema e se exercitar nisso, não? Recomendamos!

 

Por fim, Stephen Koch recomenda: “Leia por amor. Todo escritor deve se apaixonar com certa regularidade por algum escritor ou livro novos, e a paixão deve irromper com tal intensidade que cada livro novo se transforme em um namoro ardente e cada quinze minutos roubados para folheá-lo sejam um encontro inebriante. Somente o amor pode ligar um outro escritor ao seu ser. O amor faz você reler e é nessa releitura que se dão os acontecimentos realmente profundos”.

 

Escolhemos terminar com uma outra citação que Koch faz de Stephen King:

 

Ser arrebatado pela combinação de uma grande história em um grande texto – nocauteado mesmo – faz parte da necessária formação de todo escritor. Você não pode ter a esperança de arrebatar alguém com a força do seu texto sem que isso tenha acontecido antes com você.

 

Convidativo? Se você já tiver tido a experiência de uma leitura que o arrebatou, compartilha conosco.

 

Boas leituras e bons escritos a todas e todos!

 

 

Obra de referência deste artigo: Oficina de escritores, um manual para a arte da ficção, Stephen Koch, Martins Fontes, 2009.

 

 

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