Artigo para o Site da Granja, fevereiro de 2021

 
Conhecê-la, ao menos de vista, quem não conhece? Difícil alguém ter escapado sempre incólume a um estado de ansiedade. Mesmo a pessoa mais tranquila, a mais bem resolvida, aquela que se trabalha com profundidade, seja na meditação, na ioga ou nas suas sessões de terapia…. se olharmos com honestidade, quem já não teve ao menos algum episódio dessa desagradável perturbadora?

 
Nos tempos atuais – e, aliás, neste período de tantas incertezas, restrições e alterações pandêmicas então! – é quase impossível encontrar quem não tenha recebido uma visita ou mantenha como hóspede uma pequena, média ou robusta senhora ansiedade.

 
Por conta disso e se estivermos tendo que conviver com ela por algum tempo, é muito importante conhecê-la melhor, saber um pouco mais dos seus hábitos, gostos, do que se alimenta, como se expressa, quando acorda, quando descansa etc. Até que, quem sabe, possamos nos despedir de sua presença.

 
Na verdade, ativações de estados ansiosos podem acontecer vez ou outra, sem que tragam prejuízos e até sendo nossos aliados. Se você vai prestar vestibular, se tem uma entrevista de emprego ou na pós, se vai casar, iniciar o seu negócio, abrir sua loja pela primeira vez, resolver uma grande questão ou problema, se lançar em um novíssimo projeto ou sonho desconhecido… minha nossa, parabéns e não se preocupe, um tipo de ansiedade estará ali ativando todos os seus sentidos e deixando você em alerta para os vários estímulos e demandas incomuns que terá de enfrentar. Na proporção do que você terá que enfrentar! E passando quando o momento crítico passar. Então, essa ativação toda dará espaço para o relaxamento, uma boa noite de sono, o desconectar no fim de semana, alegria, comemoração ou até mesmo tristeza e frustração, mas ela cederá e acompanhará o fluxo natural dos acontecimentos. Combinado?

 
Se algo diferente disso está acontecendo, é bom dar atenção. E vamos lá, vamos entender quem está por aí.

 
O primeiro passo é reconhecer a nossa visita ou hóspede Sra. D. Ansiedade. Insidiosa, astuta, ardilosa, em suas versões mais barulhentas ela costuma fazer parecer que é “indespachável”, indispensável, parte integrante da vida e até que ela é você! Cuidado, frases/expressões como “sou ansiosa(o)”, “a minha ansiedade” fazem esta senhora exultar e penetrar ainda mais fundo na sua casa, instalando-se com os pés sobre a mesinha de centro ou deitando na sua cama com sapatos cheios de sujeira.

 
E há também as versões camaleônicas, que são bastante grudentas, escorregadias e difíceis de se mandar embora justamente porque conseguem ser quase “inacháveis” em seus disfarces extraordinários. Aqui se incluem aqueles casos em que achamos que nossa agitação e aceleração são superbacanas e nos colocam pra frente – isso, tão pra frente que… né? (você pode completar a frase). Ou quando identificamos uma calmaria em nós, mas que ela se dá à custa de comida em excesso, dos maços de cigarro diários, da fuga de responsabilidades, problemas e desafios, de nos fecharmos na concha daquilo que nos é mais conhecido e cômodo.

 
Sim, tudo isso acontece e pode estar relacionado com a ansiedade, embora ela tenha uma família bem grandinha e com muitas “parecências”, como a depressão e suas outras primas-irmãs também. De toda forma, quando nossa vida perde a qualidade por algum motivo, é essencial prestarmos atenção, pois muitas vezes isso não precisa ser assim e, em muitos casos, com protagonismo ou não, tem ansiedade envolvida aí.

 
Melhor não nos habituarmos com isso e dar por natural uma vida com muitas restrições e limitações desnecessárias.

 
Portanto, o primeiro passo é identificar este estado quando ele vai se instalando e se tornando um intruso. Vamos seguir falando disso? Que tal tomar as próximas semanas para ir localizando se há sinais de ansiedade no seu dia a dia.

 
Se você ficou ansiosa(o) com a proposta, apressada(o) por saber tudo, anota aí. Pode ser um dado importante (risos).

 
Segue no mês que vem.
 
 
Imagem: Masha Raymers

Iana Ferreira
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